HASSAN, O ÁRABE

Para Hassan, meu amigo invisível, que resolveu fazer-me portador das suas palavras. Espero que elas possam iluminar os nossos caminhos, guiando-nos em direção a uma vida melhor...

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Location: Salvador, Bahia, Brazil

Monday, January 30, 2006

CONTRASTES


O rio irriga a terra antes árida,

a linda flor brota onde antes só existia um botão,

o pássaro encontra o alimento que antes lhe faltava.

O sorriso da criança ilumina o mundo por um instante,

o ventre aumentado indica a continuidade da vida,

a música quebra o silêncio que a solidão habitava.

A palavra faz nascer uma nova idéia,

a saudade desaparece na alegria do reencontro,

o retorno da paz faz esquecer os horrores da guerra.

O sonho perdido renasce no brilho de um olhar,

a mão anônima alimenta a boca faminta,

o brilho do sol dispersa as trevas da noite.

A vela do barco perdido desponta no horizonte,

a boca enamorada recolhe a lágrima que deslizava,

o frescor do oásis atenua o abrasante deserto.

Do coração do Universo, o Pai vela por seus filhos.

Entretanto, insistimos em não ver a luz da esperança.

Porque nos perdemos na escuridão dos nossos temores...

Sunday, January 22, 2006

COMO EU VEJO O AMOR


Amar não é necessitar de alguém; é, simplesmente, querer alguém.

Como não é repartir todos os momentos da vida; e sim viver intensamente aqueles que nos é dado repartir.

Amar não é tornar-se um satélite, mas descobrir a gravitação que permite a dois mundos percorrerem a mesma órbita.

E não traz o medo da solidão, mas a doce sensação de companhia.

Não é anular-se em função de alguém, mas existir. Porque o próprio amor só existe entre duas pessoas que se completam.

O amor não é uma concha, a isolar-nos do mundo. É antes um mirante, do qual descobrimos todo o seu esplendor.

E não é posse, mas entrega; não é egoísmo, mas compreensão. Não é a certeza do conhecimento, mas a emoção da descoberta. Não é compreender o ser amado, mas aceitá-lo como é.

Como é preciso que haja espaços entre as estrelas, para que o céu possa mostrar todo o seu esplendor, é preciso que os haja entre dois amantes, para que neles o amor se possa instalar.

Porque o amor não é uma corrente, a ligar os pés de duas pessoas; é a ponte entre dois corações. Não é a segurança do futuro, mas a intensa emoção do presente; nem a solidez da muralha, mas a inquietude do oceano.

O amor não é o teto que nos limita, mas o céu que nos faz sonhar. Não é a maciez da pétala, mas a rosa com todos os seus espinhos; porque não é apenas na pétala, que reside a beleza da flor.

Aquele que busca a segurança, não deveria buscar o amor.

Porque o amor não está nas mãos entrelaçadas, mas na emoção provocada pelo toque. Não nas bocas que se encontram, mas na ânsia que faz com que os lábios se entreabram. Não nos corpos que se fundem, mas na plenitude do orgasmo.

Na posse, encontramos apenas a satisfação das nossas carências.


Só na entrega, podemos encontrar o amor...

Sunday, January 15, 2006

DO MEDO


Acaso a flor rejeita a gota de orvalho, por que poderá ser a última?

Ou despreza o raio de sol, por que as nuvens poderão encobrir o céu?

Devemos evitar um momento de amor, por que talvez no futuro nos aguarde a solidão?

E, se assim fizermos, o que nos restará, sem a boa lembrança que possa aquecer o frio das nossas noites? Sem a recordação da gota de sentimento, que fez florescer o botão das nossas emoções?

É no medo, que nos perdemos. É pelo temor do futuro, que deixamos de viver o presente; é por desejarmos o que nos falta, que não desfrutamos o que temos.

Entretanto, o colibri busca apenas o néctar da flor recém-descoberta; e o desfruta, sem o temor de que amanhã já não o encontre. Por isto, consegue sentir o mel na sua plenitude.

A verdade é que nada existe, senão o momento. Porque já sobrevivemos ao passado, e nem sabemos se chegaremos ao futuro. Esta é a sabedoria da natureza, que se oculta na ingenuidade da criança.

Como a formiga, buscamos amealhar para o futuro; quando deveríamos cantar, como faz a cigarra. Porque o certo é que a morte encontrará a ambas; e a formiga nada levará dos seus bens, enquanto à cigarra restará a lembrança alegre do seu canto.

A nada devemos temer tanto, quanto ao próprio medo. A nuvem que não teme desfazer-se em chuva volta ao céu, depois de espalhar a vida; enquanto aquela que tentou preservar-se, é desfeita pelo vento.

Talvez a coragem de viver um sonho nos traga apenas a felicidade de um momento. Porém, ele viverá em nossa lembrança.

E talvez o medo de vivê-lo nos traga uma eternidade de solidão...

Tuesday, January 10, 2006

A MAGIA


Buscais a magia.

Como se fosse algo capaz de resolver todas as vossas dificuldades. Como se pessoas existissem, que não estivessem sujeitas às regras do Universo.

Acreditais, acaso, que exista um único peixe cuja vida não obedeça ao que lhe determina o mar ?

Não vos ocorre que, se alguém pudesse manipular forças ocultas, antes de por dinheiro oferecer os seus serviços, trataria de obter para si próprio o que lhe fostes pedir ?

Deixai-me rir da vossa ingenuidade.

Pois é sabido que apenas o Amor pode levar o homem a encher o prato de outrem, antes que esteja cheio o seu próprio prato. E, por certo, não vos ama aquele que vos cobra pela ajuda.

Guardai-vos, portanto, dos falsos magos; como o deveis fazer dos falsos profetas. Pois uns e outros não vos trarão senão esperanças passageiras e duradouras desilusões.

De pronto os reconhecereis: são aqueles que vos garantem operar prodígios, e os que falam como se por suas bocas falasse sempre a própria Verdade.

Pois os que falam bem de si próprios, nada fazem senão tentar convencer-vos de algo em que eles mesmos não acreditam. E os que se julgam donos da verdade, apenas espalham as próprias mentiras.

Aprendei que o iluminado não enaltece a própria luz. Antes a oferece, por saber que a luz não lhe pertence e apenas lhe foi confiada, para que a pudesse distribuir por seus irmãos.

Aquele que encontrou a sua própria verdade sabe que cada homem tem uma verdade própria. E, ao oferecer a que encontrou, espera que cada um, ao ouvi-lo, possa descobrir a verdade que existe em si mesmo.

Não penseis, entretanto, que não exista a magia.

Quem assim pensa, jamais esteve enamorado. Pois o amor é a mais forte das magias, fazendo nascer um mundo novo para aquele que toca com as suas asas.

A magia existe. E está à vossa volta:
- na ave que se eleva aos céus, vencendo a gravidade
- na rosa, que surge do botão para espalhar a beleza
- na gotícula do sêmen, que se transforma em um novo ser
- nos sonhos, que vos visitam durante a noite
- na alternância entre o sol e a lua.

Sim; a magia vos cerca. E está também em vós; nos vossos sentimentos, nas vossas emoções e no mais simples dos vossos pensamentos. No verdadeiro Eu, que vos torna capazes de pensar e sentir.

Viveis entre a magia, na magia e da magia. Entretanto, à procura de coisas que vos pareçam miraculosas, não vedes os milagres que vos parecem coisas comuns. Mais uma vez os vossos olhos vos cegam, os ouvidos vos ensurdecem e a ânsia da busca não vos permite encontrar o que buscais.

Não é nos que se dizem magos, que encontrareis a magia; como não é nos que se dizem profetas, que ouvireis a voz do Universo. O que promete, não é aquele que pode e quer dar; este, simplesmente, dá.

Não procurais a fruta, senão na árvore; como não procurais o peixe, senão na água. Assim, a cada coisa deveis procurar onde a podeis encontrar.

Buscai, pois, a magia onde a encontrareis: na Natureza, em vós mesmos, em tudo o que vos possa ligar ao Coração do Universo.


E não espereis que ela vos apareça sob a forma de milagre. Pois as Leis existem, e por ninguém podem ser desobedecidas. Assim, àquele que se deseja tornar um mago, cabe aprender a interpretar a Lei.

Como aquele que pretende tornar-se um profeta, não pode esperar que seja aceita a sua verdade. Deve, antes, aprender a respeitar as verdades dos seus irmãos; pois, assim como a planta não brota senão da semente, não surge o conhecimento senão da procura.

E àquele que não sabe ouvir não cabe o direito de ser ouvido.

Eu vos digo que a magia não se encontra ao alcance de vossas mãos, nem à vista de vossos olhos, nem sob o poder da vossa bolsa.

Mas em vosso verdadeiro Eu.

Sunday, January 01, 2006

O EGOÍSMO


Eu vos tenho visto a chamar-vos, uns aos outros, de egoístas.

E o dizeis como ofensa; ou como se o egoísmo fosse o mais grave dos vossos defeitos.

Eu, entretanto, vos digo que o egoísmo está em cada um de vós; assim como o fio para o tecido, ou a estrela para o céu noturno. E, se não é a maior das vossas qualidades, é a força que mais vos impulsiona para a vida.

Dependeis do egoísmo, desde antes de vossa concepção.

Acaso, o próprio ato em que fostes gerados não proveio do egoísmo da mulher, a querer ter em si o homem amado? E do egoísmo do homem, ao querer possuir a mulher amada?

Desde que concebido, o feto não retira do organismo da mãe o alimento de que necessita? E a gestante não sente como “seu” o ser que carrega no ventre? E ambos não se completam, nessa egoísta simbiose?

Sois os filhos do egoísmo.

Sim, e também os seus pais; e os seus amigos, e os seus amantes. Pois vos ouço a chamar de vosso tudo e todos a quem amais. Assim, dizeis: “meu filho”, “meu esposo”, “minha amada”, como se algum deles realmente vos pertencesse; e, entretanto, a ninguém vos conformais em pertencer.

Pois cada pessoa pertence exclusivamente a si própria, e mesmo ao dar-se o faz na esperança de receber.

O egoísmo é um de vossos atributos. Como a inteligência ou a habilidade; como a beleza ou o dom da fala.

E, como todos os atributos, não é bom ou ruim em si mesmo; bom ou ruim será o uso que dele fareis. Como a inteligência e a habilidade, a beleza e a fala, quando consagrados ao mal, podem espalhar o sofrimento; se, ao contrário, usados para o bem, fazem brotar a felicidade.

Aceitai o vosso egoísmo.

E aprendei a cultivá-lo, como fazeis aos outros atributos. A direcioná-lo, no sentido de tornar melhor a vossa vida. Pois não é sábio aquele que usa o que possui para causar o próprio sofrimento.

Vede: pessoas existem, que consagram a própria vida a ajudar os outros. E não o fazem por eles, mas por elas mesmas; porque, ao fazê-lo, sentem-se felizes. E essa é uma forma sublime do egoísmo.

Outras existem, que tudo querem para si: espoliam, enganam, roubam os seus irmãos. E jamais se sentem felizes, porque algo sempre lhes falta. E essa é uma forma doentia do egoísmo.

Assim, a primeira forma faz nascer a felicidade, que se espalha entre os homens. E a segunda nada traz senão a cupidez, o medo e a frustração, que disseminam o sofrimento.

Certo é que a felicidade não faz parte deste mundo.

Entretanto, é igualmente certo que é ela o vosso objetivo maior em cada jornada. Mostrai-me um homem que não busque a felicidade, e eu vos mostrarei alguém que decerto a encontrou.

Deixai, portanto, que eu vos diga que o egoísmo, como o amor e a saudade, como a alegria e a tristeza, como tudo que podeis sentir, nasce do desejo de serdes felizes.

E que jamais sereis completamente felizes, enquanto existir alguém infeliz. Pois a felicidade se envergonha de mostrar a sua face, quando confrontada ao sofrimento; escondeis o vosso riso, entre pessoas que choram.

E isso acontece porque caminhais juntos, ainda que esta verdade vos escape à percepção: como pequeninas gotas formais o Mar do Infinito, enquanto julgais ocupar apenas o vosso próprio espaço.

Só juntos, chegareis ao fim da jornada.

Pois, embora alguns se adiantem na caminhada, cabe-lhes retardar o passo para auxiliar aos que se atrasam. E o fazem com alegria, por entender que assim estão construindo a própria felicidade.

Que seja este o vosso egoísmo.

Não deveis abaixar a chama da vossa lâmpada, para poupar o azeite: antes trazei-a bem alta, para que os outros possam enxergar o caminho. Assim, não tropeçareis em alguém cuja queda possais evitar.

E não deveis armazenar a comida que vos sobra. Se sabiamente a distribuirdes, não conhecereis a fome dos vossos irmãos; e jamais a vossa comida vos será roubada.

Como não deveis guardar a roupa que não vos é necessária. Ou julgareis ofendido o vosso pudor, pelo irmão que caminha despido ao vosso lado.

Se assim fizerdes, esgotado o azeite da vossa lâmpada outro tomará o vosso lugar. E desfrutareis da sua luz.

Terminada a vossa comida, outro vos há de alimentar. E não sentireis o travo amargo da necessidade, mas o doce sabor da gratidão.

Gastas as vossas roupas, outro vos há de vestir. E não serão apenas os trajes a aquecer-vos, mas também o calor da amizade.

Entretanto, não deveis sentir-vos superiores ao dar; ou, decerto, vos sentireis inferiores ao receber. E a humilhação avilta e empobrece a dádiva.

Dai, apenas. Para serdes felizes.

Que seja esse o vosso egoísmo!

un affair to remember.mid