DA VIDA
Eu gostaria de ver os vossos corações.
Desnudas as vossas almas, expostos os vossos medos e a vossa coragem, as alegrias e as tristezas, as certezas e as dúvidas.
Para que eu vos pudesse mostrar que a maior parte das coisas que vos fazem sofrer não têm maior importância.
Importa que existe a Vida.
E é como um mar, em meio ao qual sois os peixes que desconhecem a existência da água, dedicados à caça das iscas que vos lançam os pescadores.
Por isto, sofreis.
E vos angustiais, por coisas que amanhã já nem sequer lembrareis.
Pois sempre haverá novas iscas, e na ilusão de seu brilho passageiro encontrareis novas esperanças. Como, nos anzóis que encobrem, estarão novas angústias.
Necessitais descobrir a água.
Para que nela melhor vos possais mover, e desfrutar do seu tépido conforto.
Para que melhor entendais o que sois, e a dádiva que é a própria Vida.
Ela, em si, é tudo de que necessitais. E, em seu transcorrer, encontrareis sonhos e desilusões; que vos farão sorrir e chorar, cada qual a seu turno.
E estareis vivos, em vossos sorrisos e em vossos prantos.
E eu vos digo: atentai para ambos. Porque é neles que está a chave da vossa compreensão.
Alguns vos dizem que o homem se conhece por seus atos, como as árvores por seus frutos. Eu, entretanto, vos digo que os frutos não existiriam, sem as raízes; e, mais que os atos do homem, importa saber as causas que os determinaram.
Pois não é herói aquele que pratica a proeza sob o desespero do medo; como não é vilão aquele que erra por não lhe restar outro caminho. Eis que ambos, um e outro, apenas fizeram o que lhes foi possível.
Atentai, portanto, para as vossas idéias e os vossos sentimentos: são eles as portas que vos podem levar ao vosso verdadeiro Eu.
E aprendei a gozar a dádiva da Vida.
Pois, assim, a entendereis. E, quando o conseguirdes, tereis aprendido que nela nada existe para ser entendido.
Deixai que eu vos repita: a Vida é o mar, e sois os peixes.
A vida é o céu, e sois as estrelas.
É assim que é; e não vos cabe mais do que aprender a nadar, para que melhor vos possais mover por ela.
Ou aumentar o vosso brilho, para que as trevas não se formem à vossa volta.