O MUNDO DO VERDADEIRO EU
Como o vagalhão impetuoso, que avança sobre a praia e a tudo destrói na sua passagem.
Como o fogaréu que se alastra pela mata e ao qual nada sobrevive, senão a terra calcinada.
Assim são as paixões violentas, em nossa alma.
Porque é certo que o ciúme enlouquece a mais sensata das pessoas; como o invejoso será sempre o mais pobre dos homens, não importando tudo aquilo que possua.
Como um mundo, é o nosso verdadeiro Eu.
Pois nele existem vales tranqüilos, nos quais pode repousar o nosso ser. Mas existem, também, montanhas escarpadas e precipícios sem fundo, onde nos lança a nossa inquietude.
Nada pode ser mais difícil, do que escolher a rota a ser seguida; e, entretanto, é este o único caminho para a felicidade.
É na verdade, que encontramos o destemor; porque a mentira, apenas proferida, nos torna reféns do medo de vê-la descoberta.
É na confiança naqueles a quem amamos, que encontramos a paz. Porque ninguém atravessará o abismo da solidão, se não confiar na ponte que é o amor. Com efeito, é melhor não amar do que não confiar no ser amado.
É no desapego, que encontramos a liberdade. Porque aquele que vive para as suas posses, da própria cupidez se torna escravo.
É ao não julgar os outros, que perdoamos a nós mesmos. Porque, muitas vezes, os erros que neles apontamos serão por nós cometidos no futuro; quanto mais ácida a crítica, nela mais se oculta a voz da inveja.
Como os pássaros deveríamos fazer, e buscar sempre o céu da nossa alma; pois assim desfrutaríamos do calor do sol, do frescor da brisa e do perfume das flores. E colorida seria a nossa vida.
Entretanto, é como as toupeiras que mais nos comportamos. Como se ávidos estivéssemos para explorar os nossos túneis mais ocultos, onde nada poderemos encontrar senão as trevas do sofrimento.
É assim que somos, desde o início dos tempos.
Perdidos de nós mesmos...